O modelo ADDIE começa a mostrar sinais de defasagem

O design instrucional é uma área do conhecimento relativamente nova com menos de 100 anos de existência, e desde que os recentes avanços nos meios de comunicação tomaram conta do cenário educacional e das nossas vidas, desde meados da década de noventa, muita coisa mudou. O design instrucional precisa se reciclar e mostrar um pouco de adaptação as novas metodologias e problemas do mundo contemporâneo. Um dos tópicos para o qual o design instrucional não se adaptou muito bem, foi para um novo paradigma em aprendizagem que é chamado de aprendizado informal. Esse tipo de aprendizado é muito embasado pelos ambientes pessoais de aprendizado, conhecidos pela sigla PLE em inglês.

Qual é o mote principal do ambiente pessoal de aprendizagem? A pessoa que está aprendendo ou estudando, o faz por motivação própria e não por uma imposição. No design instrucional encontramos vários modelos para a criação e projeto de material educacional, sendo o mais famoso desses modelos o ADDIE (Análise, Design, Desenvolvimento, Implementação e Avaliação). O fator motivação não é lavado em consideração pelo modelo e deve ser fator fundamental no design de qualquer tipo de projeto.

design approach

No passado os treinamentos e conteúdos educacionais eram impostos as pessoas que precisavam do conteúdo, quase como uma imposição. Mas, hoje o aprendizado informal tem se mostrado mais eficiente em termos de resultado e também na otimização do tempo. Em momento algum o design instrucional se preocupa com o ambiente ou situação em que o aluno será envolvido pelo conteúdo. Qual o motivo que impede uma pessoa de estudar no seu próprio local de trabalho, aos poucos e de maneira informal? Usando exemplos e material preparado para contextualizar o aprendizado com a sua realidade?

Portanto, fica o desafio para quem trabalha com design instrucional que é adicionar o fator motivação aos cursos e treinamentos. Como é possível trabalhar os modelos mais tradicionais do design instrucional, que já são comprovadamente eficientes, mas que precisam de melhorias e revisão para se adequar as necessidades e características dos profissionais e alunos do século XXI?

Esse é um tipo de desafio que deixa qualquer designer instrucional com grandes problemas, pois esse fator é deveras subjetivo e pode ao mesmo tempo atrapalhar a experiência dos alunos de maneira geral. Mas, a ausência de motivação nos cursos pode ser ainda pior para o projeto como um todo.

Dicas de design instrucional: Como revisar uma disciplina?

O trabalho de um designer instrucional é relacionado com o desenvolvimento e planejamento de conteúdos educacionais e programas de curso, mas ainda existe uma outra função para qual o designer instrucional é lembrado pelas instituições de ensino, quando alguma coisa não está correta nos seus cursos; a reformulação de um curso. O processo de revisão de um curso é fundamental para garantir que os objetivos educacionais sempre estejam sendo atingidos com o máximo de ênfase. Mesmo os cursos e materiais preparados com cuidado, precisam de revisão constante do conteúdo. Como estou encarregado de realizar algumas dessas revisões nesse semestre, resolvi escrever um pequeno guia com algumas dicas sobre o processo de revisão, que envolve muita pesquisa e análise.

Quando o material e roteiros de aula já estão prontos, a parte mais complicada desse tipo de projeto já está parcialmente concluída, que é a pesquisa e determinação de uma seqüência de ensino. Sem o conteúdo pronto, o designer instrucional precisaria fazer entrevistas e trabalhar com profissionais da área com domínio do conteúdo para projetar o curso.

Day 19/365

Então, vamos aos passos necessários para fazer uma boa revisão do conteúdo, considerando que o curso é baseado em leitura de textos, o que pode ser feito presencialmente ou a distância:

  1. Localize os objetivos do curso: O que os alunos que concluem o curso precisam saber ou fazer? Caso isso não esteja escrito em nenhum local, procure identificar pelos objetivos principais. Uma boa maneira de relacionar esse tipo de conteúdo é fazendo uma lista com bullets mesmo. Exemplos:

    • Conhecer os requisitos necessários para fazer uma boa apresentação
    • Funcionamento de um software para apresentações
    • Localizar e editar imagens para inserção em slides
    • Produzir um roteiro ou storyboard para apresentação
  2. Analise o plano de ensino e a seqüência de conteúdos abordados: A linha de raciocínio do curso é explicada em algum local? Qual sua justificativa? Caso essa linha não esteja clara para você, também não vai estar para os alunos.
  3. Qual o objetivo específico de cada texto ou material didático no curso? Assim como o curso de maneira geral, cada material usado no desenvolvimento do conteúdo deve apresentar, mesmo que apenas para os gestores do curso os objetivos específicos do conteúdo. Como esse texto ajuda no desenvolvimento dos objetivos gerais?
  4. Como os conteúdos estão relacionados? Uma boa disciplina baseada em texto, sempre apresenta relações e citações de material já utilizado. Por exemplo, um texto que aborde as conseqüências da globalização para mercados emergentes, deve explicar de maneira breve o significado da palavra globalização, ou citar o título do material em que isso foi abordado no curso.
  5. Os textos estão escritos em primeira pessoa? Por incrível que pareça, os alunos preferem textos escritos na primeira pessoa. Isso lembra muito a presença e a palavra de um professor, que está guiando e indicando os conteúdos. Os materiais escritos de maneira impessoal, acabam despertando pouco interesse nos alunos.
  6. Os exercícios estão relacionados com o conteúdo? Uma ótima maneira de relacionar as perguntas propostas em um curso, é relacionar o resultado com os objetivos gerais do mesmo. Por exemplo, ao elaborar ou revisar uma pergunta, compare o enunciado com os objetivos listados na descrição desse curso. Como eles se relacionam? Existe coerência? caso contrário, essa pergunta não deveria estar na lista de exercícios, mas sim como atividades extras que demandam estudo complementar.

Bem, seria leviano dizer que isso é tudo o que é necessário para revisar de maneira satisfatória uma disciplina ou conteúdo educacional. Mas, é um ótimo começo para quem precisa realizar essa tarefa importante para melhorar seus cursos e conteúdos. Sem esse procedimento, o ciclo de desenvolvimento dos modelos para design instrucional acabam não acontecendo.

Um ponto importante, que serve como reflexão é que a maioria dos assuntos e pontos críticos da revisão estão diretamente relacionados com os objetivos da disciplina/curso.