Empreendedorismo: Como organizar uma disciplina?

O processo de organização de uma disciplina é um grande desafio de design instrucional, principalmente se o assunto abordado não é a especialidade do designer em questão. Mesmo para especializadas, existem disciplinas e assuntos que são extremamente complicadas de transpor para conteúdos escritos. Um desses exemplos é a disciplina de empreendedorismo, que aborda vários aspectos do desenvolvimento pessoal de uma pessoa, seja para o lado da criação mesmo de um empreendimento ou para a organização de um plano de negócios. Caso você seja designer instrucional ou gostaria de trabalhar nessa área, recomendo pesquisar sobre o assunto para conhecer um pouco mais sobre a organização dessas disciplinas.

O problema com o Empreendedorismo, quando abordamos assuntos que não estão diretamente relacionados com a criação do plano de negócios, mas o chamado empreendedorismo comportamental, é que não existe certo ou errado. Mas, alguns pontos de vista e opiniões que podem ou não ser analisados em algumas situações chave.

business team work - girl leading

Por exemplo, a identificação de oportunidades é ponto fundamental para qualquer empreendedor. Como é possível ensinar alguém a identificar essas oportunidades e se tornar um empreendedor? Depois de muita leitura e consulta a livros e alguns professores de empreendedorismo, percebi que a fórmula para mostrar esse tipo de conteúdo é semelhante em todos os casos.

A fórmula se baseia no estudo de caso de algum empreendedor de sucesso, em que o professor explica o processo que resultou no sucesso dessa pessoa como empreendedor. Isso passa pela identificação da oportunidade que fez o empreendedor se lançar no projeto. Toda a história é comentada pelo professor, para que os alunos possam em algum momento fazer analogias com a sua realidade e quem sabe vislumbrar alguma oportunidade.

Mesmo não sendo comprovado que todos os alunos desse curso em particular, devam aproveitar a história para identificar possíveis oportunidades, o método tem se mostrado eficaz na descoberta de alguns poucos empreendedores. O tema é ao mesmo tempo interessante e pode despertar algumas idéias sobre a identificação de oportunidades, que nem sempre resultam no lançamento de algum negócio próprio. Mas, na realização de um curso em uma área que você identifica ser valorizada no futuro. Isso é estudado pelo empreendedorismo também.

O ensino do empreendedorismo a distância é um ótimo tema de estudo para qualquer designer instrucional. Nessa área, uma boa margem de comparação pode ser feita com o SEBRAE, que disponibiliza muitos cursos pela internet. Ainda não tive oportunidade de participar de nenhum deles, mas os colega professores que já participaram ficaram muito satisfeitos.

Dicas de design instrucional: Como melhor usar gráficos e imagens?

Nesse semestre estou lecionando uma disciplina que aborda o uso e criação de conteúdo multimídia, que apesar de não ser diretamente relacionado com ambientes educacionais, pode interessar em muito um designer instrucional. Dentre os diversos temas que abordo na disciplina, tirando a parte técnica e relacionada com tecnologia, sobra muito conteúdo ligado a percepção humana dos aspectos visuais da comunicação. Por exemplo, quais os melhores tipos de imagem e gráficos para ilustrar um aplicativo multimídia? Esse tipo de decisão é geralmente tomada com base apenas em aspectos estéticos, mas existe toda uma série de estudos e considerações que devem ser tomadas, antes de realizar a escolha.

A área da ciência que estuda esse tipo de conteúdo se chama cognição, que está diretamente ligada a psicologia. Mesmo não sendo a minha especialidade, depois de muita leitura e pesquisa consegui delimitar um paralelo entre as diversas tipologias de imagens e gráficos, com as suas respectivas aplicações em material educacional.

Multitouch Project - Final

Antes de falar sobre as aplicações, vamos conhecer a organização dos diferentes tipos de imagens e gráficos:

  • Gráficos Decorativos: Tipo de gráfico que adiciona apelo estético em qualquer tipo de interface direcionada para educação ou apresentações comerciais. Esse é o tipo de imagem mais usada, caso fôssemos fazer uma média de utilização dos diversos tipos de gráficos.
  • Gráficos Representativos: Essa imagem tem como função apresentar a forma ou visual de um objeto ou cenário existente. Por exemplo, na apresentação de uma aula de geografia é interessante falar sobre cidades e países, exibindo fotografias desses lugares.
  • Gráficos Organizacionais: Tipo de imagem que apresenta as relações qualitativas entre diferentes conteúdos. Por exemplo, o uso de organogramas para explicar o relacionamento entre as pessoas dentro de empresas.
  • Gráficos Interpretativos: Os gráficos interpretativos mostram de maneira visual fatos ou objetos que não são tangíveis para nós. Por exemplo, a representação de uma estrutura molecular ou as ligações nos átomos de carbono em uma estrutura orgânica. Nessa ocasião é interessante associar as explicações, uma ilustração que mostre visualmente o funcionamento da estrutura.
  • Gráficos Relacionais: Aqui temos um tipo de gráfico que relaciona informações ou dados de maneira visual. Um bom exemplo disso são os infográficos.
  • Gráficos de Transição: Qualquer tipo de gráfico que demonstre movimento ou transformação. Por exemplo, animações ou histórias em quadrinhos.

De maneira geral, podemos classificar a grande maioria das imagens que usamos nessas categorias. No próximo artigo, falo sobre as diferentes situações ou conteúdos que melhor utilizam cada um desses tipos de gráficos.

Dicas de design instrucional: Como revisar uma disciplina?

O trabalho de um designer instrucional é relacionado com o desenvolvimento e planejamento de conteúdos educacionais e programas de curso, mas ainda existe uma outra função para qual o designer instrucional é lembrado pelas instituições de ensino, quando alguma coisa não está correta nos seus cursos; a reformulação de um curso. O processo de revisão de um curso é fundamental para garantir que os objetivos educacionais sempre estejam sendo atingidos com o máximo de ênfase. Mesmo os cursos e materiais preparados com cuidado, precisam de revisão constante do conteúdo. Como estou encarregado de realizar algumas dessas revisões nesse semestre, resolvi escrever um pequeno guia com algumas dicas sobre o processo de revisão, que envolve muita pesquisa e análise.

Quando o material e roteiros de aula já estão prontos, a parte mais complicada desse tipo de projeto já está parcialmente concluída, que é a pesquisa e determinação de uma seqüência de ensino. Sem o conteúdo pronto, o designer instrucional precisaria fazer entrevistas e trabalhar com profissionais da área com domínio do conteúdo para projetar o curso.

Day 19/365

Então, vamos aos passos necessários para fazer uma boa revisão do conteúdo, considerando que o curso é baseado em leitura de textos, o que pode ser feito presencialmente ou a distância:

  1. Localize os objetivos do curso: O que os alunos que concluem o curso precisam saber ou fazer? Caso isso não esteja escrito em nenhum local, procure identificar pelos objetivos principais. Uma boa maneira de relacionar esse tipo de conteúdo é fazendo uma lista com bullets mesmo. Exemplos:

    • Conhecer os requisitos necessários para fazer uma boa apresentação
    • Funcionamento de um software para apresentações
    • Localizar e editar imagens para inserção em slides
    • Produzir um roteiro ou storyboard para apresentação
  2. Analise o plano de ensino e a seqüência de conteúdos abordados: A linha de raciocínio do curso é explicada em algum local? Qual sua justificativa? Caso essa linha não esteja clara para você, também não vai estar para os alunos.
  3. Qual o objetivo específico de cada texto ou material didático no curso? Assim como o curso de maneira geral, cada material usado no desenvolvimento do conteúdo deve apresentar, mesmo que apenas para os gestores do curso os objetivos específicos do conteúdo. Como esse texto ajuda no desenvolvimento dos objetivos gerais?
  4. Como os conteúdos estão relacionados? Uma boa disciplina baseada em texto, sempre apresenta relações e citações de material já utilizado. Por exemplo, um texto que aborde as conseqüências da globalização para mercados emergentes, deve explicar de maneira breve o significado da palavra globalização, ou citar o título do material em que isso foi abordado no curso.
  5. Os textos estão escritos em primeira pessoa? Por incrível que pareça, os alunos preferem textos escritos na primeira pessoa. Isso lembra muito a presença e a palavra de um professor, que está guiando e indicando os conteúdos. Os materiais escritos de maneira impessoal, acabam despertando pouco interesse nos alunos.
  6. Os exercícios estão relacionados com o conteúdo? Uma ótima maneira de relacionar as perguntas propostas em um curso, é relacionar o resultado com os objetivos gerais do mesmo. Por exemplo, ao elaborar ou revisar uma pergunta, compare o enunciado com os objetivos listados na descrição desse curso. Como eles se relacionam? Existe coerência? caso contrário, essa pergunta não deveria estar na lista de exercícios, mas sim como atividades extras que demandam estudo complementar.

Bem, seria leviano dizer que isso é tudo o que é necessário para revisar de maneira satisfatória uma disciplina ou conteúdo educacional. Mas, é um ótimo começo para quem precisa realizar essa tarefa importante para melhorar seus cursos e conteúdos. Sem esse procedimento, o ciclo de desenvolvimento dos modelos para design instrucional acabam não acontecendo.

Um ponto importante, que serve como reflexão é que a maioria dos assuntos e pontos críticos da revisão estão diretamente relacionados com os objetivos da disciplina/curso.

Quando o uso de conceitos é melhor que notas?

No processo de fechamento de notas para o final do semestre, os professores se deparam com um verdadeiro festival de notas, representando as diferentes escalas de aprendizagem de um aluno na sua disciplina. sempre que isso acontece, fico fazendo comparações entre os alunos que estão em escalas próximas, mas com diferenças significativas no aprendizado. Esse é um tema controverso e que não tem resolução simples, pois as metodologias de avaliação para o aprendizado ainda são motivo de muito debate e pesquisa.

Dois alunos com notas 6 e 8 respectivamente, estão próximos na escala de notas mas dependendo da disciplina em que os dois estão inseridos, e a maneira com que foram avaliados, um deles pode estar apto para o mercado de trabalho e o outro não! Por incrível que pareça, o mais apto pode ser o que tirou 6.

Algumas instituições d ensino profissional, adotam uma maneira diferente de avaliar seus alunos para evitar esse tipo de problema, que é o uso de conceitos ao invés de notas para avaliação. Por exemplo, em um determinado item de uma disciplina, o aluno recebe um conceito como “suficiente” ou “insuficiente”. Esse tipo de avaliação é muito mais dura com o aluno e exige altos níveis de análise por parte do professor, coisa que uma prova escrita não consegue transmitir.

Failure at technology, apparently

Repare que nesse exemplo não existe meio termo, ou o aluno sabe ou não sabe. Para quem precisa avaliar o aprendizado é muito mais simples, você não precisa ficar tentando adivinhar o que fez os alunos com notas 6 e 8 fizeram, ou deixaram de fazer para conseguir essas notas.

Outro ponto interessante sobre essa metodologia, quando o aluno é avaliado em uma disciplina, a mesma é quebrada em várias competências desenvolvidas pelo aluno ao longo da disciplina. Ele é então avaliado em cada uma dessas competências, para que no final possa conseguir ser aprovado na mesma.

O uso de conceitos na substituição de escalas em notas é um conceito moderno e eficaz para classificar e mensurar o aprendizado, sem deixar margem para interpretações errôneas.

Apesar de ser um modelo fantástico para quem analisa de fora, esse tipo de avaliação encontra sérias resistências por parte dos professores, acostumados a trabalhar com notas durante toda a sua vida, acabam não se dedicando ao processo. Como esse tipo de avaliação envolve em alguns casos a aplicação prática do que foi estudado, professores com perfil muito acadêmico e teórico, acabam tendo muita dificuldade na aplicação do modelo.

Ao mesmo tempo, a vantagem do conceito como forma de avaliação é o seu maior complicador. Com todos os contratempos, ainda acredito muito nesse tipo de avaliação como aposta para o futuro da educação.

Qual a influência do storyboard no desenvolvimento de material educacional?

Uma das primeiras coisas que aprendemos quando começamos a trabalhar com design instrucional; é que a parte de criação de conteúdos é o processo mais trabalhoso e dispendioso na elaboração de qualquer curso. Isso pode ser dito em qualquer escala e escopo de curso, mas em atividades como cursos a distância, o processo pode assumir proporções bem maiores, e se tornar um entrave para o desenvolvimento de novos materiais e até mesmo novos cursos, já que nessa modalidade o curso está diretamente relacionado à qualidade do material de apoio.

Sempre que converso com alguém que está interessado em começar a desenvolver materiais educacionais, essa pessoa me pergunta se existe alguma técnica ou estratégia para acelerar o processo. Será que existe mesmo? Depois de muito tempo pesquisando e participando da criação de materiais educacionais, inclusive nos meus dois últimos livros que escrevi, descobri uma maneira até muito bem fundamentada de acelerar o processo.

A solução é; sempre comece pelas imagens!

Sim! A resposta pode até mesmo parecer simples, mas o uso dessa metodologia pode acelerar em muito o processo de criação. Basta parar um pouco para pensar, que estamos condicionados a trabalhar primeiro com a parte textual dos conteúdos, explicando tudo em palavras, fazendo listas e tudo mais, para depois encontrar imagens que possam ilustrar esse material que já foi escrito. Mas, quanto tempo foi necessário para trabalhar esse material? 1 mês? 6 meses? Será que seria possível fazer o mesmo em 3 semanas?

Storyboard

Depois de apanhar algumas dificuldades com a elaboração de materiais educacionais, certa vez recebi um trabalho que era o de escrever a explicação para uma excelente apresentação em slides, que estava totalmente fundamentada em imagens. Apesar de ser composta por quase 40 slides, a apresentação me tomou apenas 1 semana para descrever o processo completo, inclusive a parte em que precisei estudar os infográficos e pesquisar muito na internet para descrever alguns processos.

Esse trabalho me chamou a atenção para o poder que as imagens têm sobre a explicação de um processo, seja ele qual for. Por isso, hoje sempre seleciono as imagens e os gráficos que usarei em trabalhos, mesmo que sejam textuais, e em apresentações em PowerPoint nem se fala! As imagens já podem servir como ponto de partida para os slides.

Podemos até mesmo fazer uma analogia com a produção de filmes, em que antes mesmo de começar a fazer as filmagens, sempre é elaborado um storyboard com a seqüência completa de ação, para que seja possível entender completamente o que está acontecendo.

No nosso caso, a criação de material educacional pode ser fundamentada nas imagens e diagramas. Caso você não consiga explicar o procedimento, explique a seqüência de imagens! Assim as suas idéias nunca ficam desviadas do assunto principal do texto ou apresentação.